Em Nome do Amor Ou Love Remix - Sipnose
Esta é a estória do jovem Ricardo, que procurou amar e ser amado e no final só encontrou a decepção. Algumas pessoas consideram-lhe um herói e dizem que as palavras dele representam a última barricada do nosso tempo, erguida em nome do amor; outros dizem que ele é um monstro e as palavras dele não passam dum chamado a guerra contra o amor. E tu de que lado estás? Acompanhe e deixe sua opinião... Bem-vindo!
Recomendação: ouvir em áudio ou ler ao som duma música
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Intro
É possível, por vários motivos, estéticos ou pessoais, não gostares do escritor destas linhas e podes então, aos gozos, como e hábito, troçares do jovem poeta. Este jovem que considera-se um artista e não um escritor admite na boa tais temperamentos e sentimentos. E para ele, basta só que ao passar pelas ruas do bairro, no lugar dos abraços e elogios que dão aos realizadores das boas obras, de longe, assim falem dele: alí está um homem que ainda sabe escrever com sangue e pensar com o coração!
CAP I - Homens & Mulheres - 1
1.0 - Numa segunda, com as pessoas a correrem p'ra o trabalho; num bar, com as pessoas a gozarem os copos ou num falecimento, com as pessoas a chorarem, está sempre presente um Ricardo: um jovem inquieto, diferente, estranho e solitário, que destona e destoa com a maioria e pensa p'ra si: Ishhhhh amanheceu mais um dia como os outros e passou mais uma noite como as outras! E eu sou outro, não sou como vocês! Sou muito diferente de ti e tu muito diferente de mim! mas apesar de todas as diferenças, uma coisa comum a todos, independentemente da cor e do bolso nos faz irmãos: a dor! E as dores são tantas, com diferentes expressões e classificações. Falo desta dor comum causada pelo amor. Esta dor causada pela busca constante e ausência constante de alguém a quem, sem dúvidas , seguríssimos, chamarmos meu amor! Sim, estou ciente, o assunto é banal mas o artista é excepcional!
1.1 - Chamo-me Ricardo, sofri das piores humilhações que uma pessoa pode sofrer, em nome do amor. Comi, caguei e voltei a comer as minhas próprias fezes, em nome do amor. Provei a doçura desse mel e logo de seguida mandaram catanar-me a língua e falaram-me no ouvido '' este mel não é p'ra o teu bico, tu não mereces ser amado!'' Ahhhh no que concerne ao amor e aos namorados o meu objectivo é simples e alegre: vingança! Sim, meu golo é vingar-me do amor e dos que se amam. Cuidem-se meninas bonitas que gostam de exibir os corações frescos! Vou sujar, enegrecer, fazer sofrer todo coração bonitinho que se meter no meu caminho. Sim, estou ciente, meu objectivo é egoísta mas bem fundamentado: todos vocês devem sentir a dor que eu senti simplesmente por amar. Todos vocês devem conhecer a dor da rejeição e da humilhação. O som do ''não, não quero!'' deve ressonar sem parar nas vossas cabeças. E custe o que custar, leve o tempo que levar o amor me paga! Sei que o tempo é traiçoeiro, ele não é amigo de ninguém mas armei-lhe uma cilada...
1.2 - Sim, ainda sou o Ricardo que conheceram na secundária mas já não sou aquele menino dantes. Agora cada sorriso meu, cada actividade minha, escondem lá por baixo o desejo de esfaquear o amor e os namorados. Agora detesto as flores! Detesto o arco-íris! Não quero pessoas felizes perto de mim! Não quero os fiéis perto de mim! Quero estar rodeado de corações com ódio, corações com raiva e chuto o rabo dos que se atrevem a dizer que se amam, que são felizes... Que se lixem os felizes! Que sabem vocês felizes do amor? Que sabem vocês que se amam da dor? Ah antes que me esqueça, muito cuidado meninas bonitas que adoram homens lindos! Muito cuidado senhoras endinheiradas que apreciam um bom corpo, jovem e musculoso! Sou lindo, irresistível e quero ser famoso e querido por todas as mulheres deste mundo. E toda esta criação artística que aqui tens não passa dum simples meio para esse glorioso fim! E ah nesse momento triunfal, tendo a beleza, o talento, a fama e todas as mulheres do mundo rastejando aos meus pés a minha vingança será certeira: morte ao amor!
1.3 - Estou pronto: serei o sacrifício! Vou sacrificar os meus gostos mais pessoais, os meus desejos mais considerados e servir somente a ferir este inimigo secular da Humanidade. Ah o que poderia ferir mais ao amor e as mulheres deste mundo do que um jovem ídolo, desejado até a loucura, solteiro até a morte? O que poderia ferir mais ao amor e aos namorados do que um ídolo pirata, destruidor de lares e de corações? Confesso: é meu objectivo sabotar as casadas, não querer as queridas, desfavorecer as favorecidas, negar as irresistíveis, idolatrar as desmerecidas, amar as detestadas e etc. É meu destino mexer esta ordem do namoro e do amor! Quero das mulheres mais lindas, mais ricas, habituadas aos mimos mais calorosos, a rastejarem-se aos meus pés e a receberem das rejeições mais humilhantes que existem! E quem sabe desta maneira o coração deste pobre rapaz terá alguma paz? - Ricardo, não é tarefa fácil a sua! Olha p'ra o céu e pede forças...
1.4 - Muitas noites dou por mim a chorar... Nem sempre fui este homem que vês agora… Nem sempre fui este vingador que tens agora! Ah deviam ter me conhecido antes, com as veias ainda vivas e a ferverem de alegria! Eu sim, não duvidem, era alegre! E desta vida, queria somente amar e ser amado. E não foi por falta de esforço e não foi por falta de entrega! Fui cavalheiro, fui atencioso e apesar de toda a entrega e esforço fui rasteirado. Não conheci na vida ninguém tão insério e indisciplinado como o amor! Não conheci nas minhas andanças destino tão descabido como a felicidade! Ricos e pobres, homens e mulheres, no derradeiro momento, quando do amor mais precisaram foram todos deixados na mão por este senhor. Aconteceu-me por tantas vezes, amar loucamente uma mulher, voar pelas nuvens por ela, para no meio da viagem, largar-me mil metros acima da terra, sem piedade, e preferir um amigo, um inimigo, um vizinho, um colega e etc. Ah o amor não foi nada bondoso comigo! Este senhor não respeita a nada e nem a ninguém! Não trata com consideração nem sequer aos mais novos! Ele é um bicho que se alimenta de dor e de carne moída. Ele deve morrer, está decidido!
1.5 - Não espero compreensão, não espero compaixão, não venho fazer as pazes, compreendo os que não me entendem. Já estive onde vocês estão: por muito tempo li dos melhores livros, ouvi dos sábios mais respeitados, imitei dos mulherengos mais amados, segui as pegadas dos mais felizes e mais bem-sucedidos e no final, decepcionado mas satisfeito, pude concluir com chave de ouro que ninguém sabe nada da felicidade, neste mundo! Todas as dicas, todas as teorias dos homens mais bem-amados e conhecedores das coisas levaram-me ao mesmo destino de sempre: o fracasso. E desde muito tempo venho me perguntando: Ricardo, como pode isto acontecer contigo? Tu que és tão forte, tanto em corpo como em espírito... E eu mesmo me consolo: seria claro se o amor jogasse limpo! Se ele desse ouvidos ou aos fortes ou aos fracos, ou aos bons ou aos maus... Mas ninguém sabe por que ou a quem ele dá ouvidos. Ninguém sabe dizer a quem ele serve ou a quem ele deve. Não existe na história do mundo personagem tão desprezível como este senhor! Não existe uma só fonte causadora de tanta infelicidade... Odeio o amor e todos seus capatazes! E não preciso fingir, não vou me segurar...
1.6 - Quem me conhece de perto sabe que me impressiono facilmente e com a mesma facilidade me decepciono. Como todos nós desde muito cedo desejei loucamente gostar e ter alguém p'ra chamar de minha, meu... Então de cabeça baixa, rabo na areia, ouvi os mais velhos ditarem as regras do sucesso nesta empresa. Ouvi os romances, os conselheiros, os filmes, as novelas e todos em coro gritavam-me: seja verdadeiro…, seja humilde…, seja simpático…, seja paciente… e terás a tua amada! De facto nas novelas, nos romances, nos filmes, os heróis, para além da aclamação popular, no final acabavam sempre com uma bela nos braços e um beijo nos lábios. Os verdadeiros, os humildes, ainda que fosse difícil, no momento final, as mulheres lançavam-lhes a mão e deixavam os pulhas a boiarem no mar da amargura. Oh o aprendizado estava claro: bastava ser bom tipo, não fazer mal a ninguém pra ganhar a mulher amada. Fui a luta! E haaaaa fui arrastado, humilhado por toda mulher que escolhi para ser ela a minha! Até que mais tarde, por acaso, fui aprender de velhos mais honestos que quando não se é feliz não se precisa ficar no chão a chorar. Fui aprender que bem podemos trepar os muros, as árvores, enquanto não trepamos os altos cumes. Em outras palavras: bem podemos ir montando o burro enquanto o cavalo não chega, bem podemos ir vivendo de pão seco enquanto esperamos o bolo.Percebi tudo e fiz das lições deles o meu modo de vida! Mas sabiam eles que se come pão seco ao ponto de se habituar e não se estranhar? Sabiam eles que quem se habitua a velocidade do burro pode morrer de vertigens só de pensar na velocidade do cavalo? Sabiam eles que quem se habitua a viver na base acaba por temer os altos cumes? Sabiam eles que quem se habitua as cavernas aprende a ama-las e aprende a odiar a luz? As coisas simples, pequenas, têm o perigo de não exigirem muito p'ra serem tomadas e os habituados as coisas simples, não tarda, acabam levando uma vida simples.
1.7 - Mas eu não quero ser simples, não quero viver simples! Devo ser complexo, e sou complexo, obscuro, tudo deve se misturar em mim e no final devo desaparecer com todas as cores como o arco íris.
1.8 - Sentado no meio destas linhas confusas tudo está nublado mas bem posso ver que os casos de amor que tive contigo Berta, Marta, Solange só me degeneraram. Sim, entramos nas aventuras amorosas puros e de alma saudável e aos poucos vamos ganhando experiencia, isto é, vamos nos sujando, nos viciando até ao ponto em que desanimados e desalmados, mas sem darmos conta, enchemos a boca: já sei no que vai dar! Amigo e amiga se já viste muito saiba logo que és porco! O que é o experimentado senão o rodado demais, o estragado! O que é o experiente senão alguém que depois de passar pela mesma situação por várias vezes já pode prever os acontecimentos! Hoje quando penso em sair do chão, estender as asas e voar aos altos cumes em busca do amor dá-me uma preguiça felina. Doem-me mais as quedas e as falhas do que a atitude pelo menos tentei, na próxima consigo! Falo muito, justifico muito e na verdade não passo dum cobarde guiado pela experiência. Na verdade temo os altos voos, temo as quedas dolorosas, evito o que me fará mal. Sim, sou como o business man que investe pouco, arrisca pouco e chora a falta dos lucros grandes…
1.9 - Mas p'ra que me preocupar? Em vão nos batemos as cabeças, o amor não passa dum porco! - Apenas um porco com bom perfume!
2.0 - Após longas jogadas nesta área vi coisas que se repetem quase sempre e vi coisas que acontecem uma vez em cada mil tentativas. Talvez não saibas mas existem pessoas que ou estão com a amada ou estão sozinhas. Os membros desta classe são caríssimos, mais raros que a obra de arte: são eles os amantes de alta classe. Eles conhecem e já estiveram no topo da felicidade que dói-lhes a eles mesmos, sentem-se escravizando-se a si próprios quando estão com alguém que não amam. Eles detestam com toda a força aquilo que tanto nos diverte e idolatramos: estar só por estar... Ficar só por ficar... O namoro, a parceira para eles é uma missão divina. E existe a maioria que chamo de baixa classe e é composta pela manada de infelizes e desiludidos que não conhecem senão o fracasso. Para estes o namoro não passa de diversão. Vivemos algum tempo aqui e saímos para lá. Ficamos algum tempo lá e voltamos para cá. E rimo-nos dos amantes de alta classe que são parvos. E felizes que nunca fomos, não possuímos a ferramenta de comparação adequada p'ra sentirmos o quão parvos nós mesmos somos. Todos os relacionamentos que temos baseiam-se na desconfiança e descomprometimento. Bem podemos usar, sujar e abandonar na hora seguinte.
2.1 - Muitas vezes dá-se o caso de conhecermos alguém que gostamos seriamente que com um pouco de entrega da nossa parte pode encher-nos de graça. Então desgraçados que somos, dominados pelo medo de falhar, vais nos ver em fuga e sentados sobre o muro preferirmos ficar sozinhos, a abafar esse amor. Sim, falei mesmo abafar! Vivemos tanto tempo sem amor que agora lhe tememos e desenvolvemos técnicas de lhe evitar e lhe adiar nos nossos corações! As nossas companheiras favoritas são mulheres desesperadas, já sem forças, que ficam connosco depois de perderem o bom vinho. Preferimos mulheres feias, velhas, amarguradas porque são fáceis e tal qual nós não querem nada! Almejar alguma coisa, desejar algo mais que o passageiro p'ra nós é fraqueza. Invejamos e nos rimo as gargalhadas dos que amam! Invejamos e odiamos aquele sono que vos faz crer no ele é meu... ela é minha! Que se lixem os bem-aventurados! Que sabem vocês de nós? Que sabem vocês deste amor que tem olhos no coração e um cofre nas mãos? Sim, muito a vontade, preferimos a monotonia do dia-a-dia e a previsibilidade das coisas da vida. Não acreditamos em namoros! Não acreditamos na fidelidade! Não acreditamos em casais felizes, aliás, nem acreditamos em casais! Onde vocês vêm casais, nós vemos pares!
2.2 - Mas oh amigos, não se afastem de nós que somos bons gajos! Somos os caras da boa cena! A verdade é que temos as nossas razões! A verdade é que o amor não tem respeito! Este senhor por várias vezes entrou nos nossos corações, recebemos-lhe de braços abertos, demos-lhe tudo que tínhamos e em troca enganou-nos, pilhou-nos, deixando-nos na miséria absoluta. A experiência ensinou-nos a lhe tratarmos com desconfiança e inimizade por isso erguemos barricadas, construímos murais e criamos polícia secreta para nos protegermos dele: qualquer sinal do vírus do amor nos nossos corações, os nossos anti-amores ficam alerta e prontos a extermina-lo. É simples: já não queremos passar pelo que passamos! E quando dizes que não devemos desistir, devemos lutar, a vida é assim, até concordamos e lá no fundo sentimos a tentação de tentar de novo mas oh os nossos anti-amores estão tão evoluídos que por si próprios, automaticamente, instintivamente, accionam-se e abafam os primeiros fungos do amor dos nossos corações. Detestamos o amor! Fora das nossas casas! O amor só trouxe desgraças! Antes dele vivíamos em paz e sem nenhuma preocupação... O amor não é bem-vindo por estas bandas! Fora o amor…
2.3 - Estou a usar tanto a palavra amor... Agora diga-me, quando se diz amor qual é a imagem que te vem a mente? Sim, entendo, vais me dizer que é algo bom que sentes e não consegues explicar; vais me falar de coisas boas e suaves, vais me falar de algo divino que não podes explicar e etc. Oh irmão, por que sofrer? Por que sofrer com coisas pesadas quando existe o mano Ricardo que é pago para carregar esses fardos? Já que não podes explicar, já que ninguém sabe ao certo o que o amor é ou representa , eu mesmo, sob minhas próprias expensas, investiguei e trago agora os resultados de graça, sem cobrar nada em troca. 1 - O amor é homem, ele não é mulher. 2 - O amor é terrestre, ele não é celeste. 3 - O amor tem nome, ele não é mistério. 4 - O amor é aldrabão, ele não é sério. 5 - O amor é frustração, ele não é felicidade. 6 - O amor é doença, é morte, ele não é vida. Onde o amor se meteu entre duas pessoas, a casa funerária vendeu 2 caixões e o cemitério vendeu 2 talhões! Onde o amor entrou entre 3 amigos, 1 foi deixado p'ra trás e os 3 ficaram separados! Onde o amor entrou entre 2 colaboradores, gerou complicações e eliminou a cumplicidade! Este senhor, bajulador da paz e da felicidade, profeta da suavidade e docilidade na verdade é uma minhoca, uma ratazana, comerciante do mal-estar e do tédio de viver...
2.4 - Disse antes que não sou como tu e tu és muito diferente de mim amigo. Eu não sou boa pessoa! Eu não sou sensato! O espírito dos verdadeiros homens, guiados pela vingança ferve nas minhas veias! E custe o que custar terei a minha vingança: o amor deve morrer! Sim, quero mesmo dizer desaparecer, deixar de existir, aniquilar, extinguir e etc. E nesta vez a batalha não será nos nossos corações onde ele sempre leva vantagem pois p'ra lhe ferir temos que nos ferir também e p'ra ele morrer temos que morrer também. Romeu e Julieta, o Jovem Wherther, pobres jovens, mataram-se em nome do amor e no final ele zombou deles e abandonou-lhes no túmulo. Poison, um jovem da zona, suicidou-se em nome do amor... Poison morreu, desapareceu, foi-se e este amor de merda continua aqui com a cara falsa de suavidade estampada! Quantos mais jovens devem morrer? Não, eu não sou como eles! Eles eram boas pessoas, dóceis - sangue bom! Eu sou mau, eu sou forte, eu sinto ódio... E nesta vez o duelo será no campo de batalha escolhido por mim! - Aqui sob o sol do meio-dia! Nada de coração e amada metida a meio! E então com a minha chave de fenda vou despejar o teu sangue e salvar o meu tempo deste perfume fedorento contra a clareza, contra o cálculo, contra a amizade, contra a inimizade, contra a família, contra a própria vida. Sim sei, traidores da nossa nobre causa não faltarão! Abutres, zombies, sanguessugas virão aos montes a favor do amor e contra a nobre causa! E não ficaremos surpresos, estamos prontos! Do meu lado tenho um pequeno mas resoluto exército pós-amor! Falo de corações como o meu, cheios de vida que não precisam do amor p'ra nada. Falo de corações fortes que aceitam a dor, aceitam o sofrimento e detestam o mau cheiro da felicidade que o amor e os seus apóstolos espalham pela cidade. Quando falo de mim, na verdade falo de vocês da próxima geração que não precisam de sabonetes, ainda cheiram a leite e não precisam de perfumes! E onde estão vocês? Onde estarão vocês - como eu - almas burras? Sim, almas burras são almas puras! Devo ter dito em algum lado que experimentar demais é sujar… Oh Ricardo chega de palavras! Não é tarefa fácil a tua! Tens a missão de salvar o futuro…
2.5 - Não importa a cidade, em toda arte do mundo o cenário é o mesmo: há mais doentes em nome do amor do que em nome de qualquer outra doença. E não precisa muito limão p'ra mostrar que a maior calamidade de todos os tempos é o amor. Como os famosos psicólogos e terapeutas ainda não se deram conta desta perturbação mental? Ah Ricardo seu parvo, está mais do que claro que eles servem as indústrias farmacêuticas e não ao bem-estar da Humanidade! Não precisa nenhuma fórmula magica, é só olhar... Viro-me um bocado e olho de raspão e logo vejo manadas de jovens mal-amados. Vejo jovens mal-amados, desesperançados e conformados que já nem se atrevem àquela palavra perigosa e reveladora: por que? Por todo o país há curandeiros, programas de rádio, televisão, colunas nos jornais, revistas, direccionados aos mal-amados e a audiência é altíssima. Há mais gente com problemas de coração na lista de espera na casa do curandeiro do que doentes no hospital! Os mal-amados estão tão amargurados e cansados da sua situação que despiram a camisa da honra e vendem-se aos curandeiros, ligam a esses programas de rádio e televisão, em busca de ajuda. E oh pobres mal-amados! Pobres doentes! Saem sempre sem soluções, só perdem tempo e dinheiro! Queres uma ideia real da gravidade do assunto? Encontre os jovens numa bebedeira que vais logo ver: toda a conversa não passa duma conspiração, sem forças contra as esposas. As mulheres não prestam... Como se pode ser feliz com estas putas? Todas mulheres são iguais... Não valem nada!... E por ai em diante. Não importa se as mulheres prestam ou não. - está mais do que claro que elas não prestam! O que não suporto é o pensamento de que o amor é presa das mulheres! O pensamento de que as mulheres e o amor são a mesma coisa. O pensamento de que temos que sofrer atrás destas senhoras p'ra termos um pouco de felicidade no mundo! Confesso que como vocês também sou um mal-amado mas não participo de nenhuma bebedeira contra as mulheres! Não participo de nenhum programa do coração! O que se passa? Será que ainda não chegou a boa nova por estas bandas? Será que ainda ninguém vos cochichou que o amor é homem, o amor é mentiroso, o amor é intriga, o amor é infelicidade, o amor é morte? Caguei! Eu Ricardo, fui-me! O amor um dia virá - é o que vocês dizem com uma fé doentia. Lembrem sempre que esperar a vinda do amor é o mesmo que esperar a vinda de Cristo. Onde espalharam o Cristianismo, espalharam esta doença de nos casarmos com quem nós amamos.
2.6 - Amor é amor, casamento é casamento, são 2 assuntos totalmente diferentes e sem nenhuma relação entre eles. O primeiro tem haver com capricho e o segundo tem haver com manutenção da raça.
2.7 - Neste mundo ou aprendes por ti próprio ou te obrigam a aprender mas é sempre melhor aprenderes por ti próprio pois quando te obrigam a aprender é sempre duma maneira desvantajosa p'ra ti as regras não são tuas.
1.1 - Chamo-me Ricardo, sofri das piores humilhações que uma pessoa pode sofrer, em nome do amor. Comi, caguei e voltei a comer as minhas próprias fezes, em nome do amor. Provei a doçura desse mel e logo de seguida mandaram catanar-me a língua e falaram-me no ouvido '' este mel não é p'ra o teu bico, tu não mereces ser amado!'' Ahhhh no que concerne ao amor e aos namorados o meu objectivo é simples e alegre: vingança! Sim, meu golo é vingar-me do amor e dos que se amam. Cuidem-se meninas bonitas que gostam de exibir os corações frescos! Vou sujar, enegrecer, fazer sofrer todo coração bonitinho que se meter no meu caminho. Sim, estou ciente, meu objectivo é egoísta mas bem fundamentado: todos vocês devem sentir a dor que eu senti simplesmente por amar. Todos vocês devem conhecer a dor da rejeição e da humilhação. O som do ''não, não quero!'' deve ressonar sem parar nas vossas cabeças. E custe o que custar, leve o tempo que levar o amor me paga! Sei que o tempo é traiçoeiro, ele não é amigo de ninguém mas armei-lhe uma cilada...
1.2 - Sim, ainda sou o Ricardo que conheceram na secundária mas já não sou aquele menino dantes. Agora cada sorriso meu, cada actividade minha, escondem lá por baixo o desejo de esfaquear o amor e os namorados. Agora detesto as flores! Detesto o arco-íris! Não quero pessoas felizes perto de mim! Não quero os fiéis perto de mim! Quero estar rodeado de corações com ódio, corações com raiva e chuto o rabo dos que se atrevem a dizer que se amam, que são felizes... Que se lixem os felizes! Que sabem vocês felizes do amor? Que sabem vocês que se amam da dor? Ah antes que me esqueça, muito cuidado meninas bonitas que adoram homens lindos! Muito cuidado senhoras endinheiradas que apreciam um bom corpo, jovem e musculoso! Sou lindo, irresistível e quero ser famoso e querido por todas as mulheres deste mundo. E toda esta criação artística que aqui tens não passa dum simples meio para esse glorioso fim! E ah nesse momento triunfal, tendo a beleza, o talento, a fama e todas as mulheres do mundo rastejando aos meus pés a minha vingança será certeira: morte ao amor!
1.3 - Estou pronto: serei o sacrifício! Vou sacrificar os meus gostos mais pessoais, os meus desejos mais considerados e servir somente a ferir este inimigo secular da Humanidade. Ah o que poderia ferir mais ao amor e as mulheres deste mundo do que um jovem ídolo, desejado até a loucura, solteiro até a morte? O que poderia ferir mais ao amor e aos namorados do que um ídolo pirata, destruidor de lares e de corações? Confesso: é meu objectivo sabotar as casadas, não querer as queridas, desfavorecer as favorecidas, negar as irresistíveis, idolatrar as desmerecidas, amar as detestadas e etc. É meu destino mexer esta ordem do namoro e do amor! Quero das mulheres mais lindas, mais ricas, habituadas aos mimos mais calorosos, a rastejarem-se aos meus pés e a receberem das rejeições mais humilhantes que existem! E quem sabe desta maneira o coração deste pobre rapaz terá alguma paz? - Ricardo, não é tarefa fácil a sua! Olha p'ra o céu e pede forças...
1.4 - Muitas noites dou por mim a chorar... Nem sempre fui este homem que vês agora… Nem sempre fui este vingador que tens agora! Ah deviam ter me conhecido antes, com as veias ainda vivas e a ferverem de alegria! Eu sim, não duvidem, era alegre! E desta vida, queria somente amar e ser amado. E não foi por falta de esforço e não foi por falta de entrega! Fui cavalheiro, fui atencioso e apesar de toda a entrega e esforço fui rasteirado. Não conheci na vida ninguém tão insério e indisciplinado como o amor! Não conheci nas minhas andanças destino tão descabido como a felicidade! Ricos e pobres, homens e mulheres, no derradeiro momento, quando do amor mais precisaram foram todos deixados na mão por este senhor. Aconteceu-me por tantas vezes, amar loucamente uma mulher, voar pelas nuvens por ela, para no meio da viagem, largar-me mil metros acima da terra, sem piedade, e preferir um amigo, um inimigo, um vizinho, um colega e etc. Ah o amor não foi nada bondoso comigo! Este senhor não respeita a nada e nem a ninguém! Não trata com consideração nem sequer aos mais novos! Ele é um bicho que se alimenta de dor e de carne moída. Ele deve morrer, está decidido!
1.5 - Não espero compreensão, não espero compaixão, não venho fazer as pazes, compreendo os que não me entendem. Já estive onde vocês estão: por muito tempo li dos melhores livros, ouvi dos sábios mais respeitados, imitei dos mulherengos mais amados, segui as pegadas dos mais felizes e mais bem-sucedidos e no final, decepcionado mas satisfeito, pude concluir com chave de ouro que ninguém sabe nada da felicidade, neste mundo! Todas as dicas, todas as teorias dos homens mais bem-amados e conhecedores das coisas levaram-me ao mesmo destino de sempre: o fracasso. E desde muito tempo venho me perguntando: Ricardo, como pode isto acontecer contigo? Tu que és tão forte, tanto em corpo como em espírito... E eu mesmo me consolo: seria claro se o amor jogasse limpo! Se ele desse ouvidos ou aos fortes ou aos fracos, ou aos bons ou aos maus... Mas ninguém sabe por que ou a quem ele dá ouvidos. Ninguém sabe dizer a quem ele serve ou a quem ele deve. Não existe na história do mundo personagem tão desprezível como este senhor! Não existe uma só fonte causadora de tanta infelicidade... Odeio o amor e todos seus capatazes! E não preciso fingir, não vou me segurar...
1.6 - Quem me conhece de perto sabe que me impressiono facilmente e com a mesma facilidade me decepciono. Como todos nós desde muito cedo desejei loucamente gostar e ter alguém p'ra chamar de minha, meu... Então de cabeça baixa, rabo na areia, ouvi os mais velhos ditarem as regras do sucesso nesta empresa. Ouvi os romances, os conselheiros, os filmes, as novelas e todos em coro gritavam-me: seja verdadeiro…, seja humilde…, seja simpático…, seja paciente… e terás a tua amada! De facto nas novelas, nos romances, nos filmes, os heróis, para além da aclamação popular, no final acabavam sempre com uma bela nos braços e um beijo nos lábios. Os verdadeiros, os humildes, ainda que fosse difícil, no momento final, as mulheres lançavam-lhes a mão e deixavam os pulhas a boiarem no mar da amargura. Oh o aprendizado estava claro: bastava ser bom tipo, não fazer mal a ninguém pra ganhar a mulher amada. Fui a luta! E haaaaa fui arrastado, humilhado por toda mulher que escolhi para ser ela a minha! Até que mais tarde, por acaso, fui aprender de velhos mais honestos que quando não se é feliz não se precisa ficar no chão a chorar. Fui aprender que bem podemos trepar os muros, as árvores, enquanto não trepamos os altos cumes. Em outras palavras: bem podemos ir montando o burro enquanto o cavalo não chega, bem podemos ir vivendo de pão seco enquanto esperamos o bolo.Percebi tudo e fiz das lições deles o meu modo de vida! Mas sabiam eles que se come pão seco ao ponto de se habituar e não se estranhar? Sabiam eles que quem se habitua a velocidade do burro pode morrer de vertigens só de pensar na velocidade do cavalo? Sabiam eles que quem se habitua a viver na base acaba por temer os altos cumes? Sabiam eles que quem se habitua as cavernas aprende a ama-las e aprende a odiar a luz? As coisas simples, pequenas, têm o perigo de não exigirem muito p'ra serem tomadas e os habituados as coisas simples, não tarda, acabam levando uma vida simples.
1.7 - Mas eu não quero ser simples, não quero viver simples! Devo ser complexo, e sou complexo, obscuro, tudo deve se misturar em mim e no final devo desaparecer com todas as cores como o arco íris.
1.8 - Sentado no meio destas linhas confusas tudo está nublado mas bem posso ver que os casos de amor que tive contigo Berta, Marta, Solange só me degeneraram. Sim, entramos nas aventuras amorosas puros e de alma saudável e aos poucos vamos ganhando experiencia, isto é, vamos nos sujando, nos viciando até ao ponto em que desanimados e desalmados, mas sem darmos conta, enchemos a boca: já sei no que vai dar! Amigo e amiga se já viste muito saiba logo que és porco! O que é o experimentado senão o rodado demais, o estragado! O que é o experiente senão alguém que depois de passar pela mesma situação por várias vezes já pode prever os acontecimentos! Hoje quando penso em sair do chão, estender as asas e voar aos altos cumes em busca do amor dá-me uma preguiça felina. Doem-me mais as quedas e as falhas do que a atitude pelo menos tentei, na próxima consigo! Falo muito, justifico muito e na verdade não passo dum cobarde guiado pela experiência. Na verdade temo os altos voos, temo as quedas dolorosas, evito o que me fará mal. Sim, sou como o business man que investe pouco, arrisca pouco e chora a falta dos lucros grandes…
1.9 - Mas p'ra que me preocupar? Em vão nos batemos as cabeças, o amor não passa dum porco! - Apenas um porco com bom perfume!
2.0 - Após longas jogadas nesta área vi coisas que se repetem quase sempre e vi coisas que acontecem uma vez em cada mil tentativas. Talvez não saibas mas existem pessoas que ou estão com a amada ou estão sozinhas. Os membros desta classe são caríssimos, mais raros que a obra de arte: são eles os amantes de alta classe. Eles conhecem e já estiveram no topo da felicidade que dói-lhes a eles mesmos, sentem-se escravizando-se a si próprios quando estão com alguém que não amam. Eles detestam com toda a força aquilo que tanto nos diverte e idolatramos: estar só por estar... Ficar só por ficar... O namoro, a parceira para eles é uma missão divina. E existe a maioria que chamo de baixa classe e é composta pela manada de infelizes e desiludidos que não conhecem senão o fracasso. Para estes o namoro não passa de diversão. Vivemos algum tempo aqui e saímos para lá. Ficamos algum tempo lá e voltamos para cá. E rimo-nos dos amantes de alta classe que são parvos. E felizes que nunca fomos, não possuímos a ferramenta de comparação adequada p'ra sentirmos o quão parvos nós mesmos somos. Todos os relacionamentos que temos baseiam-se na desconfiança e descomprometimento. Bem podemos usar, sujar e abandonar na hora seguinte.
2.1 - Muitas vezes dá-se o caso de conhecermos alguém que gostamos seriamente que com um pouco de entrega da nossa parte pode encher-nos de graça. Então desgraçados que somos, dominados pelo medo de falhar, vais nos ver em fuga e sentados sobre o muro preferirmos ficar sozinhos, a abafar esse amor. Sim, falei mesmo abafar! Vivemos tanto tempo sem amor que agora lhe tememos e desenvolvemos técnicas de lhe evitar e lhe adiar nos nossos corações! As nossas companheiras favoritas são mulheres desesperadas, já sem forças, que ficam connosco depois de perderem o bom vinho. Preferimos mulheres feias, velhas, amarguradas porque são fáceis e tal qual nós não querem nada! Almejar alguma coisa, desejar algo mais que o passageiro p'ra nós é fraqueza. Invejamos e nos rimo as gargalhadas dos que amam! Invejamos e odiamos aquele sono que vos faz crer no ele é meu... ela é minha! Que se lixem os bem-aventurados! Que sabem vocês de nós? Que sabem vocês deste amor que tem olhos no coração e um cofre nas mãos? Sim, muito a vontade, preferimos a monotonia do dia-a-dia e a previsibilidade das coisas da vida. Não acreditamos em namoros! Não acreditamos na fidelidade! Não acreditamos em casais felizes, aliás, nem acreditamos em casais! Onde vocês vêm casais, nós vemos pares!
2.2 - Mas oh amigos, não se afastem de nós que somos bons gajos! Somos os caras da boa cena! A verdade é que temos as nossas razões! A verdade é que o amor não tem respeito! Este senhor por várias vezes entrou nos nossos corações, recebemos-lhe de braços abertos, demos-lhe tudo que tínhamos e em troca enganou-nos, pilhou-nos, deixando-nos na miséria absoluta. A experiência ensinou-nos a lhe tratarmos com desconfiança e inimizade por isso erguemos barricadas, construímos murais e criamos polícia secreta para nos protegermos dele: qualquer sinal do vírus do amor nos nossos corações, os nossos anti-amores ficam alerta e prontos a extermina-lo. É simples: já não queremos passar pelo que passamos! E quando dizes que não devemos desistir, devemos lutar, a vida é assim, até concordamos e lá no fundo sentimos a tentação de tentar de novo mas oh os nossos anti-amores estão tão evoluídos que por si próprios, automaticamente, instintivamente, accionam-se e abafam os primeiros fungos do amor dos nossos corações. Detestamos o amor! Fora das nossas casas! O amor só trouxe desgraças! Antes dele vivíamos em paz e sem nenhuma preocupação... O amor não é bem-vindo por estas bandas! Fora o amor…
2.3 - Estou a usar tanto a palavra amor... Agora diga-me, quando se diz amor qual é a imagem que te vem a mente? Sim, entendo, vais me dizer que é algo bom que sentes e não consegues explicar; vais me falar de coisas boas e suaves, vais me falar de algo divino que não podes explicar e etc. Oh irmão, por que sofrer? Por que sofrer com coisas pesadas quando existe o mano Ricardo que é pago para carregar esses fardos? Já que não podes explicar, já que ninguém sabe ao certo o que o amor é ou representa , eu mesmo, sob minhas próprias expensas, investiguei e trago agora os resultados de graça, sem cobrar nada em troca. 1 - O amor é homem, ele não é mulher. 2 - O amor é terrestre, ele não é celeste. 3 - O amor tem nome, ele não é mistério. 4 - O amor é aldrabão, ele não é sério. 5 - O amor é frustração, ele não é felicidade. 6 - O amor é doença, é morte, ele não é vida. Onde o amor se meteu entre duas pessoas, a casa funerária vendeu 2 caixões e o cemitério vendeu 2 talhões! Onde o amor entrou entre 3 amigos, 1 foi deixado p'ra trás e os 3 ficaram separados! Onde o amor entrou entre 2 colaboradores, gerou complicações e eliminou a cumplicidade! Este senhor, bajulador da paz e da felicidade, profeta da suavidade e docilidade na verdade é uma minhoca, uma ratazana, comerciante do mal-estar e do tédio de viver...
2.4 - Disse antes que não sou como tu e tu és muito diferente de mim amigo. Eu não sou boa pessoa! Eu não sou sensato! O espírito dos verdadeiros homens, guiados pela vingança ferve nas minhas veias! E custe o que custar terei a minha vingança: o amor deve morrer! Sim, quero mesmo dizer desaparecer, deixar de existir, aniquilar, extinguir e etc. E nesta vez a batalha não será nos nossos corações onde ele sempre leva vantagem pois p'ra lhe ferir temos que nos ferir também e p'ra ele morrer temos que morrer também. Romeu e Julieta, o Jovem Wherther, pobres jovens, mataram-se em nome do amor e no final ele zombou deles e abandonou-lhes no túmulo. Poison, um jovem da zona, suicidou-se em nome do amor... Poison morreu, desapareceu, foi-se e este amor de merda continua aqui com a cara falsa de suavidade estampada! Quantos mais jovens devem morrer? Não, eu não sou como eles! Eles eram boas pessoas, dóceis - sangue bom! Eu sou mau, eu sou forte, eu sinto ódio... E nesta vez o duelo será no campo de batalha escolhido por mim! - Aqui sob o sol do meio-dia! Nada de coração e amada metida a meio! E então com a minha chave de fenda vou despejar o teu sangue e salvar o meu tempo deste perfume fedorento contra a clareza, contra o cálculo, contra a amizade, contra a inimizade, contra a família, contra a própria vida. Sim sei, traidores da nossa nobre causa não faltarão! Abutres, zombies, sanguessugas virão aos montes a favor do amor e contra a nobre causa! E não ficaremos surpresos, estamos prontos! Do meu lado tenho um pequeno mas resoluto exército pós-amor! Falo de corações como o meu, cheios de vida que não precisam do amor p'ra nada. Falo de corações fortes que aceitam a dor, aceitam o sofrimento e detestam o mau cheiro da felicidade que o amor e os seus apóstolos espalham pela cidade. Quando falo de mim, na verdade falo de vocês da próxima geração que não precisam de sabonetes, ainda cheiram a leite e não precisam de perfumes! E onde estão vocês? Onde estarão vocês - como eu - almas burras? Sim, almas burras são almas puras! Devo ter dito em algum lado que experimentar demais é sujar… Oh Ricardo chega de palavras! Não é tarefa fácil a tua! Tens a missão de salvar o futuro…
2.5 - Não importa a cidade, em toda arte do mundo o cenário é o mesmo: há mais doentes em nome do amor do que em nome de qualquer outra doença. E não precisa muito limão p'ra mostrar que a maior calamidade de todos os tempos é o amor. Como os famosos psicólogos e terapeutas ainda não se deram conta desta perturbação mental? Ah Ricardo seu parvo, está mais do que claro que eles servem as indústrias farmacêuticas e não ao bem-estar da Humanidade! Não precisa nenhuma fórmula magica, é só olhar... Viro-me um bocado e olho de raspão e logo vejo manadas de jovens mal-amados. Vejo jovens mal-amados, desesperançados e conformados que já nem se atrevem àquela palavra perigosa e reveladora: por que? Por todo o país há curandeiros, programas de rádio, televisão, colunas nos jornais, revistas, direccionados aos mal-amados e a audiência é altíssima. Há mais gente com problemas de coração na lista de espera na casa do curandeiro do que doentes no hospital! Os mal-amados estão tão amargurados e cansados da sua situação que despiram a camisa da honra e vendem-se aos curandeiros, ligam a esses programas de rádio e televisão, em busca de ajuda. E oh pobres mal-amados! Pobres doentes! Saem sempre sem soluções, só perdem tempo e dinheiro! Queres uma ideia real da gravidade do assunto? Encontre os jovens numa bebedeira que vais logo ver: toda a conversa não passa duma conspiração, sem forças contra as esposas. As mulheres não prestam... Como se pode ser feliz com estas putas? Todas mulheres são iguais... Não valem nada!... E por ai em diante. Não importa se as mulheres prestam ou não. - está mais do que claro que elas não prestam! O que não suporto é o pensamento de que o amor é presa das mulheres! O pensamento de que as mulheres e o amor são a mesma coisa. O pensamento de que temos que sofrer atrás destas senhoras p'ra termos um pouco de felicidade no mundo! Confesso que como vocês também sou um mal-amado mas não participo de nenhuma bebedeira contra as mulheres! Não participo de nenhum programa do coração! O que se passa? Será que ainda não chegou a boa nova por estas bandas? Será que ainda ninguém vos cochichou que o amor é homem, o amor é mentiroso, o amor é intriga, o amor é infelicidade, o amor é morte? Caguei! Eu Ricardo, fui-me! O amor um dia virá - é o que vocês dizem com uma fé doentia. Lembrem sempre que esperar a vinda do amor é o mesmo que esperar a vinda de Cristo. Onde espalharam o Cristianismo, espalharam esta doença de nos casarmos com quem nós amamos.
2.6 - Amor é amor, casamento é casamento, são 2 assuntos totalmente diferentes e sem nenhuma relação entre eles. O primeiro tem haver com capricho e o segundo tem haver com manutenção da raça.
2.7 - Neste mundo ou aprendes por ti próprio ou te obrigam a aprender mas é sempre melhor aprenderes por ti próprio pois quando te obrigam a aprender é sempre duma maneira desvantajosa p'ra ti as regras não são tuas.
CAP II - Mulheres & Homens - 2